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Instituto Anelo mantém as atividades, mesmo com a pandemia, e inova com aulas on-line

O Instituto Anelo, associação sem fins lucrativos que oferece aulas gratuitas de música no Jardim Florence I, no distrito do Campo Grande, em Campinas (SP), completa 20 anos neste mês de maio com um importante desafio: a manutenção das suas atividades, apesar da quarentena decretada pelo Governo do Estado de São Paulo em consequência da pandemia da Covid-19.

Com as aulas presenciais suspensas oficialmente desde 16 de março, o Anelo optou por oferecer o conteúdo no formato digital, decisão esta que se revelou acertada: o conteúdo on-line já alcança 89% dos alunos, de acordo com dados levantados pela coordenação pedagógica do Instituto.

“Decidimos manter as atividades porque a periferia é prejudicada desde sempre. Parar com as aulas provocaria um atraso maior, além de uma quebra de vínculo, o que seria muito, mas muito triste”, diz Luccas Soares, fundador e coordenador geral, para quem o Anelo vive seu melhor momento.

Soares conta que, ao longo desses 20 anos, o Instituto Anelo tem sobrevivido de doações, cachês de apresentações e contribuições de comerciantes. Segundo ele, em 2020, pela primeira vez, a instituição tem garantidos 80% do valor necessário para a manutenção do trabalho por um ano. Graças, principalmente, ao patrocínio obtido, via Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, órgão ligado ao Governo Federal, das empresas CPFL Energia – por meio do Instituto CPFL – como patrocinadora máster, e Unimed Campinas.

Além desse patrocínio pela Lei de Incentivo, o Anelo também conta com o apoio da Associação Beneficente Maria e Tsu Hung Sieh; da Instituto Robert Bosch; de comerciantes da região (Agro Mila; DG Atacado; JN Guimarães; Loja Santa Luzia; Nasa Auto Peças; Supermercado Matiuzzo; Supermercado Santo Antônio; Supermercado Souza Rossin; e Teixeira Materiais para Construção); e do centro de Campinas (Iluminações Livraria).

Devido ao fechamento do comércio não essencial determinado pelo Governo Estadual, infelizmente alguns desses apoiadores não têm conseguido manter a contribuição. As doações esporádicas de pessoas físicas também caíram significativamente. Portanto, a instituição ainda necessita arrecadar os 20% restantes para completar o orçamento do ano.

Atualmente, o Anelo contabiliza 75 aulas semanais em diferentes projetos, 524 alunos matriculados, 20 professores, oito músicos colaboradores que fazem parte da Orquestra Anelo, três coordenadores e uma equipe de comunicação integrada por três pessoas (uma delas também professora) e uma secretária. O gasto mensal, incluindo salários e despesas gerais de manutenção, é de R$ 50 mil. “Não cortamos horas de trabalho nem salário”, afirma. A instituição também conta com a atuação de voluntários.

Vale lembrar que a suspensão das aulas presenciais aconteceu menos de uma semana após a inauguração da segunda fase da reforma da nova sede. “Ficamos tristes pelo Anelo não poder ocupar plenamente o espaço sonhado por 20 anos, e que foi feito de uma forma muito bonita. Mas, podemos esperar mais alguns meses, não é um grande problema. O maior problema é a pandemia. Temos uma sede. Logo, logo a gente volta a ter o entra e sai dos alunos.”

Frame de videoaula de bateria com o professor Leonardo Pelegrin

COMO FUNCIONA

Marisa Molchansky, uma das coordenadoras do Anelo, explica que o conteúdo das aulas é enviado aos alunos pelo celular, via WhatsApp. Mais recentemente, algumas turmas, como as de canto coral, têm realizado aulas ao vivo em plataformas on-line. Segundo Marisa, a opção pelo aplicativo de mensagens como ferramenta de trabalho se deu após a constatação de que seria a forma mais democrática de garantir o acesso dos alunos ao material.

“A coordenação aproveitou o período de quarentena para realizar um mapeamento sobre como alunos e suas famílias acessam a internet, se pelo celular, computador ou tablet, se têm banda larga ou mesmo se têm internet em casa. Pelo resultado, concluímos que a comunicação via WhatsApp seria uma forma possível de alcançar os alunos”, diz.

Sobre o conteúdo que é oferecido on-line, Marisa informa que cada professor tem seu planejamento, que já era aplicado no período anterior à pandemia. “A coordenação tem trabalhado a parte didática, sugerindo próximos passos e novas ações para ajudar nesse formato novo, que gera bastante trabalho para o desenvolvimento das atividades.”

Segundo ela, é claro que há dificuldades na implementação desse modelo. A primeira, é justamente o acesso dos alunos ao material. “A segunda, é que nem todos os professores estavam preparados para fornecer o conteúdo programado em formato de vídeo, em formato on-line. Então, exigiu de todo mundo um aprimoramento e um desenvolvimento bem rápido.”

De acordo com Vinicius Corilow, que também integra a coordenação do Instituto, 89% dos alunos acessam hoje o conteúdo digital, que é composto por vídeo, material de estudo e partituras. Ainda segundo ele, o levantamento feito pelo Anelo apontou que 20% dos alunos não têm computador com internet banda larga; 9,5% não têm computador ou impressora; e 6% não têm possibilidade de fazer aulas on-line.

Porém, há um outro desafio além da questão tecnológica. “De acordo com a pesquisa inicial que realizamos, 29% dos alunos não têm instrumento em casa, eles dependiam dos instrumentos do Anelo”, informa. Para tentar resolver essas questões, o Instituto decidiu realizar uma campanha para a arredação de tablets com chip para serem utilizados pelos alunos, além de reforçar a campanha permanente de doação de instrumentos musicais.

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Exemplos de mensagens trocadas entre professor e alunos

NA PRÁTICA

A professora de violino Alline Ribeiro conta que o início da quarentena foi bem preocupante, principalmente quando caiu a ficha de que todos teriam de mudar sua rotina e repensar o que havia sido planejado para o ano letivo. “Mesmo que o planejamento já tenha sido feito considerando possíveis mudanças, essa era uma mudança que a gente jamais imaginaria que aconteceria. Logo em seguida, mais forte do que essa preocupação inicial, veio a vontade de continuar motivando os alunos, já fui pesquisar sobre o assunto e tentar ter algumas ideias pra gente continuar funcionando”, diz ela, cuja experiência anterior com cursos on-line era como aluna.

Alline diz que tem dado continuidade ao que já fazia em sala de aula. Ao mesmo tempo, busca deixar o conteúdo mais interativo, aproveitando as perguntas dos alunos para desenvolver alguma aula e fazendo uso da tecnologia para enviar material de apoio.

Para ela, a primeira diferença do ensino on-line em relação ao presencial é mesmo a adaptação do conteúdo para que todos os alunos sejam contemplados com as aulas e tenham condições de fazê-las. Outra diferença é quanto à quantidade de informações. “Na aula on-line, eu tenho passado em pequenas doses, em linguagem mais simples possível, para que eles consigam compreender, para que seja mais intuitivo para os alunos.”

Sobre a resposta e a evolução dos alunos, ela acredita que, no momento, pais e alunos ainda estão se adaptando a essa nova forma de aula, a essa nova rotina, entendendo que a videoaula é de fato a continuidade das atividades no Anelo. “Tanto o desenvolvimento quanto as respostas são um pouco mais lentos, mas isso tem melhorado a cada semana.”

REALIDADE

Aluna de Canto Coral e de Prática de Banda, Bruna Evaristo de Souza conta que o primeiro impacto que sentiu com as aulas on-line foi o fato de não sair mais de casa no sábado de manhã. “Era o dia que fazia a diferença na minha semana. O coral e a banda eram uma terapia pra mim. Senti bastante.” Por outro lado, diz que tem aproveitado muito as aulas e os vídeos dos professores, assim como as lives promovidas pelo Anelo no Instagram.

Para Bruna, o principal desafio no modelo on-line é a dificuldade com a internet. “Eu não tenho internet própria, dependo de uma vizinha que divide a senha comigo.” Só assim ela baixa os conteúdos enviados pelos professores, estuda, executa as tarefas e faz os vídeos devolutivos. Porém, como o sinal de internet é ruim na região, não consegue, por exemplo, fazer uma videochamada – Bruna mora no Residencial São Luís, bairro de Campinas que faz divisa com Monte Mor.

DIRETORIA

A quarentena alterou a rotina não apenas da coordenação, professores e alunos, mas também da diretoria e do setor administrativo do Instituto Anelo. O momento, segundo a presidente Siegrid Klein, exigiu ações imediatas. “Temos trabalhado ainda mais”, diz ela, que é voluntária e está em sua segunda gestão na presidência do Instituto Anelo.

Como exemplo desse trabalho dobrado, Siegrid cita o aumento das reuniões da diretoria. Antes da pandemia, era realizada uma reunião ao mês – hoje, uma por semana. A exemplo dela, os demais integrantes da diretoria são voluntários. Para Siegrid, este é um período de muito aprendizado e dedicação. “O Anelo vai sair muito mais fortalecido, está crescendo com isso.”

Quarentena coincide com momento

de mudanças na Orquestra Anelo

 

Se a decretação da quarentena em virtude da pandemia da Covid-19 provocou uma mudança na forma de trabalhar do Instituto Anelo, ela “pegou” a Orquestra Anelo em um momento de transição. O grupo, que foi formado em 2018 e era integrado por alunos, professores e colaboradores do Anelo, passou, em 2020, a ser um grupo profissional.

A decisão de mudar o perfil, de acordo com o regente Guilherme Ribeiro, veio da necessidade de o Instituto Anelo ter um grupo musical forte, com condições de ler e responder aos arranjos e, consequentemente, abrir possibilidades de trabalho. Na prática, significa que a Orquestra passou a ser integrada por professores e músicos profissionais, experientes, portanto, remunerados.

“O Anelo tem grupos muito bons, mas precisa desse grupo de elite”, acredita, lembrando que faz parte dos projetos futuros do Instituto ter uma orquestra de alunos. E com esse salto artístico a Orquestra agora conta com naipes completos de instrumentos de sopro, passando a ter estrutura de big band com cinco saxofones, quatro trombones e quatro trompetes, mais a seção rítmica.

Ele conta que os músicos convidados a integrar a Orquestra Anelo foram “escolhidos a dedo”, e que o valor pago a cada um não é muito, “mas faz diferença na qualidade do ensaio, na pontualidade e na relação profissional, que fica mais interessante”.

Segundo ele, o principal desafio no momento é justamente o trabalho virtual. “A gente realiza reuniões online para alinhar o trabalho. Não consegue tocar juntos – a tecnologia existe, mas está disponível no Brasil por exigir uma internet mais avançada. No horário regular dos ensaios, fazemos uma reunião curta para apresentação do arranjo e pedimos para que todos enviem vídeos de estudos”, explica.

Esses vídeos são avaliados e cada músico recebe um feedback. Além desse, para avaliação, Guilherme explica que cada integrante grava um segundo vídeo, com a música lida e ensaiada, para ser utilizado na produção de um clipe com a música completa. O primeiro vídeo, com “Um Samba Pra Laís”, composição de Josimar Prince, já está pronto, com edição de imagens de Julia Toledo e mixagem de Henrique Heredia (o Mancha). Assista abaixo:

Voluntária mais antiga vê oportunidade

de crescimento com aulas online

 

Jornalista, engenheira química e diretora de marketing de uma multinacional, Gabriela Aguiar é a voluntária mais antiga do Instituto Anelo na parte administrativa, vê esse momento de migração para o universo virtual como uma oportunidade de o Anelo alcançar ainda mais pessoas.

Ela conta que conheceu o Instituto em 2001 por indicação de Guilherme Ribeiro, regente da Orquestra Anelo. Gabi era estudante de jornalismo, precisava fazer uma reportagem para uma das disciplinas do curso e o Anelo se encaixava no tema. Ao conhecer o trabalho, decidiu ser voluntária e continua até hoje acompanhado o processo de evolução do Instituto, que, para ela, foi mais acentuado nos últimos cinco anos.

Gabi diz que a pandemia da Covid-19 trouxe apreensão e levou ao adiamento, por exemplo, do primeiro festival internacional de música que estava previsto para este mês de maio, no Jardim Florence, como parte dos eventos comemorativos aos 20 anos do Anelo.

“No final, a gente equacionou tudo e viu uma oportunidade de ampliar a atuação do Instituto, de fazer coisas novas, de ir em frente”, afirma. “Vai ser um tempo de aprendizado que vai muito além do Anelo. É um tempo de investimento no futuro.”

O Instituto Anelo agradece a todos os que nos apoiaram, apoiam e nos ajudaram a chegar até aqui. Que venham mais 20 anos.

Texto: Lalá Ruiz

COMO DOAR PARA O INSTITUTO ANELO

Doações de tablets e instrumentos musicais:
– Pelo telefone: (19) 99730-7815 com Luccas Soares
– Pelo e-mail: contato@anelo.org.br

Doações em dinheiro:

1) Via depósito bancário em nome do Instituto Anelo, CNPJ 05.896.161/0001-29, no Banco do Brasil:

Agência 3551-3
Conta corrente 11379-4

2) Via PayPal ou PagSeguro: basta acessar a homepage do site do Instituto Anelo, clicar no ícone Construa com a Gente, fazer o cadastro e concretizar a doação.

 

*Texto editado em 29/4/2021 para atualização de dados bancários

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