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Gustavo Canciano: jovem aluno do Instituto Anelo segue os passos do avô no aprendizado do acordeon

Foi com aulas de cavaquinho que Gustavo Canciano fez sua primeira tentativa de aprender música. Porém, confessa que pouco aproveitou e acabou desistindo. Além disso, revela, nunca gostou muito de samba. Mas, quando seu avô, Claudionor, já aposentado, decidiu voltar a estudar acordeon, ele se encantou com o instrumento e resolveu que também seria um acordeonista.

E a exemplo do avô, Gustavo, hoje com 15 anos, tornou-se aluno do Instituto Anelo, que há 21 anos oferece aulas gratuitas de música no distrito do Campo Grande, região noroeste de Campinas (SP). No Anelo desde 2017, ele é um dos muitos talentos revelados pela instituição.

“O Gustavo tem um quê de especial. Quando o avô dele fazia aula comigo, em 2017, Gustavo o acompanhava. Nossa, eu sentia os olhos dele brilharem ao ver a gente na aula. De forma que, aos poucos, ele foi pegando a sanfona, foi tocando, mostrando que levava jeito e, de repente, já estava fazendo aula. Foi assim que ele entrou no curso de acordeon”, lembra o professor José “Baiá” Fagundes.

Aliás, a primeira sanfona de Gustavo foi, justamente, presente do avô, numa sintonia musical que chamou a atenção da produção do Caldeirão do Huck, apresentado por Luciano Huck na TV Globo. Quando o Anelo participou do programa, em 29 de dezembro de 2018, Gustavo e “seo” Claudionor estavam lá, no palco, vestindo a camisa e representando os alunos de acordeon do Instituto.

Gustavo gosta da música típica do Sul do Brasil (Foto: Acervo Pessoal)

“Foi muito legal. Eu estava ansioso em conhecer o Luciano Huck. E eu tive sorte porque ele me cumprimentou”, lembra o estudante, que, diferentemente de garotos da sua idade, fãs de hip hop, pop rock e outros ritmos ligados à cultura jovem, se revela um apreciador da música regionalista do Sul do Brasil, de ritmos como vanerão, chamamé, xote gaúcho e milonga, estilos estes em que o gaiteiro (como chamam o sanfoneiro por lá) é figura de destaque.

Segundo Gustavo, seu interesse pela música do Sul começou após assistir com o pai, Anderson, um vídeo sobre a cultura da região. “O ritmo é diferente, o jeito de dançar, de escutar, de tocar”, explica. Entre os ritmos que mais chamam a sua atenção está o Bugio.

“É o único ritmo sulista genuinamente brasileiro, os outros todos têm influência latina”, explica – de compasso binário, o Bugio é inspirado no movimento do macaco de mesmo nome, comum no interior gaúcho, atualmente em risco de extinção.

REFERÊNCIAS MUSICAIS

Como instrumentista, Gustavo diz que se espelha no acordeonista gaúcho Renato Borghetti, um dos grandes nomes da música instrumental no Brasil. Já entre os artistas que mais gosta estão os grupos Os Monarcas, Os Serranos e Cordiona, e o cantor e compositor Baitaca (nome artístico de Antônio César Pereira Jacques), todos de música regionalista, que ele escuta na plataforma de streaming Spotify.

Fora os músicos sulistas, Gustavo surpreende ao afirmar que gosta de rock. Não o rock contemporâneo, mas aquele dos primórdios do gênero, nos idos dos anos 1950, representado por nomes como Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Bill Halley. E como ele conheceu esses artistas? “Com meu pai”, diz, mostrando, mais uma vez, que a família Canciano vive na mesma sintonia.

Gustavo conta que já considerou seguir carreira na música. Porém, ele, que atualmente cursa o primeiro ano do Ensino Médio, deseja mesmo é se tornar piloto de avião. A música, contudo, deverá sempre fazer parte da sua vida. “Nas aulas, ele sempre mostra interesse, tem talento, leva jeito pra coisa e gosta mesmo do acordeon. Esse não vai parar, com certeza”, acredita o professor José Fagundes.

O INSTITUTO ANELO

Sobre estudar no Instituto Anelo, uma instituição que atua numa região distante do Centro de Campinas e já atendeu a mais de 5 mil alunos em 21 anos de atividade, Gustavo diz que significa um sonho que se realizou. “Como o Anelo não tem outro igual”, diz ele, que considera o Instituto um lugar muito bom para aprender.

Gustavo sente falta das aulas presenciais, mas conta que se adaptou ao formato online – com a decretação da pandemia da Covid-19, as atividades do Anelo passaram a ser realizadas remotamente. “No começo foi complicado. Mas, depois me acostumei. Hoje faz parte da minha rotina.”

Seu pai, Anderson Canciano, que trabalha no ramo de informática, considera o papel do Instituto Anelo na comunidade muito positivo e promissor. “Principalmente quando observamos os jovens cada vez mais cedo, a se desviar de um norte, com atitudes que trarão consequências, como por exemplo, ao ingressarem no mundo da criminalidade, onde tudo parece ser mais fácil, acessível, porém com consequências drásticas no futuro não muito distante.”

E completa: “Quando olhamos o trabalho que o Instituto Anelo faz, objetivando tirar crianças e jovens desses caminhos errados, é muito gratificante. Proporcionar resiliência a essas pessoas e vê-las conquistando seus lugares através da música, realmente não tem preço. O trabalho do Instituto deveria ser visto com mais carinho pelas pessoas, empresas e governos”.

Em tempo: se alguém ficou curioso em saber se Gustavo já visitou o Sul do Brasil, cuja música tanto gosta, a resposta é sim. Em janeiro de 2020, a família Canciano viajou para Curitiba, no Paraná; Florianópolis, em Santa Catarina; e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. “Se tudo der certo, a gente volta no ano que vem. A ideia é ir até o Uruguai”, espera o aluno

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